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RESUMOS DOS TRABALHOS

NB: Os resumos estão dispostos conforme sua ordem de apresentação no Colóquio.

 

Quinta-feira, dia 02 de junho

 

MESA 1, das 10:00 às 12:00.

 

1. Fábio Duarte Joly (Professor da UFOP)

O retrato da fides servil ao longo do tempo: uma leitura comparada de Tito Lívio, II, 5, 9 e Tácito, Anais, XV, 54.

O tema da lealdade (fides) servil é recorrente na literatura latina, de Plauto a Amiano Marcelino, embora se apresente mais localizado em certos momentos críticos da história romana, como no século final da república, em especial nos desdobramentos da guerra social e das proscrições de Mário e Sulla, bem como durante as guerras civis que levaram Augusto ao poder. No caso do Principado, o tema da lealdade servil aparece especialmente vinculado às conspirações movidas contra imperadores, como Nero. O exame dos exempla deve considerar como a apreciação da lealdade servil difere de um autor para outro de acordo com interesses mais específicos e o próprio momento de composição de suas obras, ou seja, tal apreciação remeteria invariavelmente a um certo contexto político e de entendimento legal e social da escravidão. Gostaria de tratar desse aspecto a partir da contraposição de passagens selecionadas de Tito Lívio e Tácito, que têm em comum o fato de narrarem conspirações cujos desdobramentos dependeram da intervenção de um elemento servil. Um escravo, no caso de Tito Lívio, e um liberto, no caso de Tácito. Em ambos os autores, o que está em jogo é o limite da lealdade pessoal do escravo ou liberto considerando-se sua inclusão não apenas na domus, mas igualmente na res publica.

2. Caroline Coelho Fernandes (Mestre em História pela UFOP)

Ícones e as representações imperiais em São João Damasceno no primeiro período iconoclasta: um debate sobre a autoridade política em Bizâncio.

O período iconoclasta pode ser caracterizado como uma batalha em torno das imagens religiosas que ocorreu em Bizâncio entre os séculos VIII e IX e que culminou na destruição das mesmas e na proibição de seu culto. Teve início em 726, sob o comando do imperador Leão III, e fim em 843, com o chamado “Triunfo da Ortodoxia”, sob o comando da Imperatriz Teodora. Na primeira fase, que vai de 726 a 787, quando houve o primeiro restabelecimento do culto das imagens com a imperatriz Irene, São João Damasceno surgiu como o maior defensor das imagens e de seu culto. No entanto, acreditamos que seus escritos foram mais do que uma simples defesa das imagens, sendo também uma crítica e fundamentação das representações imperiais em Bizâncio. Neste sentido, o nosso objetivo neste trabalho é expor e analisar os principais argumentos utilizados por Damasceno nos seus tratados sobre as imagens divinas para a legitimação das mesmas e do seu culto na primeira fase da iconoclasmo e, também, demonstrar que esses mesmos argumentos foram utilizados para a defesa da autoridade política bizantina.

3. Stephanie Martins de Sousa (Mestranda em História pela UFOP)

A construção da imagem do imperador Justiniano nas narrativas de Procópio de Cesareia.

Este trabalho tem como objetivo analisar a construção da imagem do imperador Justiniano, assim como de seu governo, através das obras do historiador bizantino Procópio de Cesareia, sendo a principal fonte analisada a História das Guerras. Nessa obra são narradas as guerras promovidas por Justiniano no século VI com o objetivo de retomar para o Império o domínio sobre seus antigos territórios nas fronteiras da Europa Ocidental, no norte da África e na Pérsia, que estavam sob o domínio de godos, francos, lombardos e vândalos, e dos persas. Pretendemos demonstrar que os líderes bárbaros descritos na obra de Procópio também contribuíram para a formação da imagem de Justiniano, na medida em que ao relatar as políticas imperiais empreendidas contra os povos bárbaros e as condutas e costumes de cada população, o autor evidenciou aspectos do governo e do próprio imperador, indicando o que é ser um bom ou mau imperador.

4. João Pedro Gomes (Doutorando pela Universidade de Coimbra)

A Arte como retrato.  

A Arte foi, desde cedo, considerada (e utilizada) como um meio privilegiado para retratar o poder: o poder instituído, o poder emergente, o poder imergente, a luta de poderes, a hegemonia de poderes, enfim, a arte assumiu a função de veículo de afirmação do poder em todas as suas facetas.

Assim, a análise da Arte nas suas múltiplas dimensões e suportes materiais permite conhecer os personagens por detrás do poder; permite, em última instância, retratar.

 

MESA 2, das 14:00 às 16:00

 

1. Thiago Paschoal Perpétuo (Mestrando em História pela UFOP)

O De Medicina, de Aulo Cornélio Celso e o retrato do homem saudável.

O tratado médico De Medicina (Sobre a arte médica), do enciclopedista latino Aulo Cornélio Celso, foi o único escrito deste autor que o tempo nos legou. Essa obra se divide em oito livros: os livros I ao IV tratam das terapias higiênicas que englobavam, nessa época, exercícios, dietas alimentares, massagens e sangrias como indicações terapêuticas; os livros V ao VII expõem um estudo farmacológico, útil na composição de fármacos; os livros VII e VIII, por fim, lidam com a cirurgia. É reconhecida pelos historiadores como fonte de informações acerca do saber médico e sua sistematização em língua latina no início do século I d. C. Na comunicação que apresentaremos, mostraremos como Celso, no livro I, confecciona o que pode ser chamado de “retrato do homem saudável”. Suas “prescrições” partem de dois critérios iniciais: o primeiro, que ele chama de sanus homo, é o modelo de atitudes saudáveis que um homem livre e “senhor de si” (sua spontis) deve aspirar a seguir. Contrariamente, Celso desenvolve o conceito de imbecillus, o indivíduo de organismo fraco, dependente da arte médica. Deste modo, a descrição dos sinais e sintomas que caracterizam um modelo de saúde em detrimento de outro pinta um quadro ao leitor cujos elementos, em uma análise histórica, podem extravasar o interesse específico para uma história da medicina que priorize aspectos técnicos e nos permite uma investigação sobre um ideal de liberdade adjacente ao tratado médico de Celso.

2. Ana Lucia Santos Coelho (Doutoranda em História pela UFOP)

Poder e poesia: A construção do retrato de Augusto na literatura do início do Principado.

Ao longo de seu governo, o imperador Augusto concentrou títulos e poderes que lhe permitiram controlar a vida pública romana. O consulado, a aura religiosa advinda do título de Augustus, o comando supremo dos exércitos, entre outros, contribuíram para elevar sua autoridade acima das instituições republicanas. Porém, a legitimação do poder do princeps não se pautou somente na concentração de poderes e títulos republicanos. De fato, o soberano também utilizou um sistema cultural capaz de auxiliar na consolidação de seu poder e na edificação de um consenso positivo acerca do seu governo. Nesse sentido, estimulou a produção literária de sua época, entendendo que as obras de determinados poetas latinos seriam de grande valia na obtenção de tal consenso. Assim, o objetivo desse artigo é analisar de que modo Virgílio, Horácio, Propércio, Tibulo e Ovídio construíram a imagem imperial em seus versos.

3. Giovani Silveira Duarte (Graduando em Letras pela UFOP)

Os Amores de Ovídio na tradução "parafrástica" de António Feliciano de Castilho (1858).

Em nossa pesquisa, propomos analisar, a partir do cotejo de concepções clássicas e modernas acerca de gêneros poéticos como a lírica e a elegia, de que modo a tradução “parafrástica” da obra elegíaca Amores, de Ovídio, elaborada por António Feliciano de Castilho e dada a lume em 1858, privilegia o efeito da língua de chegada, o português, e despreza os critérios tradicionais que pautavam, na Antiguidade, o gênero elegíaco, uma vez que o tradutor lança mão de variações diversas referentes ao tom e à métrica ao longo de toda a obra. Nossa pesquisa não se pretende meramente comparativa, ou seja, cotejar, ingenuamente, o original latino e o seu correspondente em língua vernácula, com o fim de demonstrar as diferenças entre um texto e outro, mas sim, quer sob a luz dos critérios tradutológicos explicitados no prefácio da obra pelo erudito português, quer mediante as noções antigas a respeito do gênero, perceber a relação agonística e emulativa travada entre o poema de Ovídio e o novo poema, composto por Castilho em língua portuguesa.

4. Alexandre Agnolon (Professor da UFOP)

O retrato do orador ciceroniano no ideal cortesão de Baldassare Castiglione.

É inegável a fundamental centralidade alcançada pelos escritos de Cícero nos meios humanistas do Renascimento, sobretudo a partir de meados do século XV, quando da descoberta do diálogo Sobre o Orador, talvez a obra que mais concentra as ideias de Cícero relativas à figura do orador. Tamanha fora a importância de Cícero, que mesmo nos tratados de cortesania do século XVI, como O Cortesão de Castiglione (1527) e o Galateo, de Giovanni della Casa (1558), é possível notar a sombra tutelar das concepções ciceronianas. Assim, o objetivo do presente trabalho será tratar do modo como Baldassare Castiglione, em seu manual de civilidade, acomoda - ou translada, se se quiser assim - o retrato do verdadeiro orador de Cícero aos salões das cortes renascentistas, sobretudo no tocante a dois pontos fundamentais: a ideia de sprezzatura e o humor com que o verdadeiro homem de corte deve condimentar suas conversações.

 

MESA 3, das 16:30 às 18:30. 

 

1. Mamede Queiroz Dias (Doutorando em História pela UFOP)

Princeps Domitianus: quinze anos de um governo cruel e ganancioso?

Este trabalho tem por objetivo explorar a constituição do retrato de Tito Flávio Domiciano (51- 96 d.C.), terceiro e último imperador da dinastia Flávia, que governou entre 81 e 96. Filho caçula do moderado Vespasiano e irmão do próspero Tito, Domiciano frequentemente aparece como um contraste negativo de seus antecessores virtuosos. Tácito (Ag., XLII, 3) destaca que sua natureza é “praeceps in iram”. Suetônio (Vit. Vesp., I) o descreve por meio de sua “cupidas ac saevitas”. Todavia, tanto Tácito quanto Suetônio, que foram contemporâneos de Domiciano, publicaram suas obras após a morte do princeps. Seriam Tácito e Suetônio vítimas da censura imperial ou bajuladores dos governantes seguintes? Existiriam elogios a Domiciano sem serem por meio da adulação? Seria possível um governo de quinze anos ser sustentado sob a égide da violência desmedida? Esses questionamentos fornecerão algumas balizas para explorarmos o retrato de Domiciano ao longo dos séculos I e II no Principado.

2. Sarah Fernandes Lino de Azevedo (Doutoranda em História pela USP)

A ação do tempo no retrato das adúlteras da aristocracia Júlio-Cláudia.

Nesta comunicação pretende-se apresentar algumas considerações a respeito dos retratos de algumas mulheres da aristocracia imperial Júlio-Claudia que foram acusadas de adultério. Tendo em vista o tema proposto, procuraremos compreender a ação do tempo na construção dos retratos históricos dessas mulheres com especial foco para o elemento do adultério. Dessa forma veremos como a figura da adúltera era associada à elaboração de críticas políticas que poderiam se dar contemporaneamente às pessoas envolvidas, ou posteriormente. Neste sentido, a partir de fontes da literatura latina, tentaremos identificar e explorar alguns dos fatores relacionados com a construção e consolidação de alguns retratos de adúlteras.

3. João Victor Lanna (Doutorando em História pela UFOP).

Exercendas leges esse” (Tac. Ann. I, 73, 4): a Lei Júlia de Lesa Majestade e o Principado Romano (8 a.C. - 68 d.C.).

A legislação promovida durante o governo de Augusto (27 a.C. – 14 d.C.) objetivou, além de uma reeducação moral da aristocracia, a consolidação da posição desse governante como força dominante dentro do cenário político romano. Essa comunicação se dedica a discutir a Lex Iulia maiestatis (8 a.C.) dentro desse projeto de governo. Para isso, buscamos compreender rupturas e continuidades na execução dessa lei durante os demais principados da dinastia Júlio-Cláudia, tendo em vista a personificação do poder imperial e o processo – gradual e contínuo – autocrático vivido pelo principado romano até a morte de Nero (68 d.C.). Dessa maneira, esperamos debater novas possibilidades para pensarmos as relações de poder entre a domus Caesaris e a(s) aristocracia(s) senatorial(ais), bem como as representações dos imperadores pelas fontes.

4. José Luís L. Brandão (Professor da Universidade de Coimbra)

O Poenulus de Plauto: evolução de um retrato étnico.

O Poenulus de Plauto apresenta um tratamento de certa forma inesperado e até paradoxal no que diz respeito à caracterização das personagens de etnia púnica, tendo em conta que a peça foi representada pouco depois da segunda Guerra Púnica, ainda em vida de Aníbal e quando decorreriam conflitos em que este era interveniente no Mediterrâneo Oriental. Tratando-se embora do mais antigo retrato de um cartaginês na Literatura Latina, no qual se percebem os estereótipos físicos e morais que a mentalidade romana associava aquela etnia, o cartaginês Hanão acaba por se revelar não um inimigo perverso ou abatido, mas um modelo de dignidade e de virtudes romanas.

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