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RESUMOS DOS TRABALHOS

NB: Os resumos estão dispostos conforme sua ordem de apresentação no Colóquio.

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Sexta-feira, dia 03 de junho

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MESA 4, das 10:00 às 12:00.

 

1. Ana Paula Scarpa (Mestranda em História pela UFOP)

A construção do retrato de Paulo de Tarso como ‘Apóstolo dos Gentios’ e suas principais implicações no estudo sobre Cristianismo Primitivo.

Com frequência, o pesquisador que se propõe a analisar o contexto do surgimento dos primeiros movimentos cristãos se depara com afirmações ligadas à centralidade do papel desenvolvido por Paulo de Tarso na difusão dos preceitos cristológicos que viriam a fundamentar o Cristianismo como religião dogmática. A fim de entendermos esta leitura específica do contexto – muitas vezes tomada como pressuposto por pesquisadores do tema – realizaremos o exercício de comparação entre as epístolas do corpus paulino e o livro dos Atos dos Apóstolos, com o intuito de percebermos o processo de construção narrativa do retrato de Paulo como “Apóstolo das nações” e, com isso, como personagem que endossou fortemente o viés contestador da ordem local e o proselitismo do discurso que procurou propagar. Em seguida, discutiremos o quão determinante foi aos estudos sobre Cristianismo Primitivo a construção deste retrato e, principalmente, em quais medidas ele vem sendo problematizado nos estudos mais atuais sobre o tema, voltados às interações e à fluidez de determinadas fronteiras culturais no Oriente mediterrânico de meados do século I EC.

2. Willian Mancini Vieira (Doutorando em História pela UFOP)

Diferentes perspectivas do Principado de Cláudio: uma análise da historiografia e da numismática.

Quando é analisada a historiografia sobre Cláudio e seu principado é quase um senso comum de que Cláudio é tido como um mau imperador, ou ao menos como um incompetente. Com raras exceções, como Momigliano e Osgood, o que predomina na caracterização de Cláudio é um tolo controlado por mulheres e libertos. O que se observa é que todo esse olhar é fruto de uma historiografia posterior a sua morte que vem sendo construída desde Sêneca e sua obra Apocolocyntosis, perpassando por Tácito e Suetônio, além de epitomadores, como Aurélio Victor. No entanto, uma categoria de fontes que pode nos apresentar uma visão diferente sobre Cláudio e seu principado é a numismática, que nos fornece uma imagem que o corpo governamental achava desejável para si. Essa apresentação pretende destacar algumas características apresentadas nas moedas do Principado de Cláudio que não foram assimiladas pela historiografia posterior, ou até mesmo deturpadas. Para tal, foram analisadas moedas ao longo de todo o Principado Claudiano, bem como alguns relatos historiográficos de Sêneca, Tácito, Suetônio e Dio Cássio. O uso desses tipos de fontes permitirá estabelecer distintas perspectivas de uma mesma personagem, sendo uma coetânea ao momento do Principado de Cláudio, e outra posterior onde houve uma concretização dos acontecimentos desse principado, assim como a disseminação de diversas ideias.

3. Ygor Klain Belchior (Professor da UFOP e doutorando em História pela USP)

Rumores e a opinião pública na Roma republicana: um estudo das Cartas de Cícero.

Para uma vasta literatura sociológica, produzida ao longo século XX, os rumores sempre foram entendidos como uma forma subalterna de comunicação, de “caráter não oficial”, como as fofocas rotineiras, que serviam tanto de condutores de sociabilidade, como também para fomentar revoluções e convulsões sociais. Todavia, na Roma republicana do primeiro século antes da Era Comum, é possível perceber que os rumores funcionavam, de certa forma, como veículos “oficiais” de comunicação e também eram importantes na política de uma forma geral. Por exemplo, em Cícero, os rumores muitas vezes interferiam diretamente nos resultados das eleições, como a difamação de um candidato, e também na construção de uma imagem, a fama, que sacramentava uma personalidade política, como César. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo estudar as cartas de Cícero, através da observação do papel dos rumores para um político que se sempre se mostrou interessado neles como uma forma de saber a opinião pública e assim pautar as suas decisões. Ao final, veremos como a opinião pública era importante quando lidamos com um contexto de guerras civis.

4. Caroline Morato Martins (Mestranda em História pela UFOP)

Picturas in porticu: Imagem e trajetória na Cena Trimalchionis.

Nesta apresentação analisaremos a descrição de imagens em trechos do Satyricon. Mostraremos como a narração do personagem Encólpio, sobre o muro decorado na entrada da mansão de Trimalchio, compõe a retratação deste liberto e anfitrião do luxuoso banquete. Refletiremos a posição central e controladora de Trimalchio na Cena e como, por meio das pinturas de sua trajetória – de escravo a homem de enorme riqueza –, são anunciados elementos recorrentes que parecem estruturar toda a Cena Trimalchionis. Indicaremos também o formato de discurso fúnebre que a Cena cumpre, havendo correspondência entre as descrições das pinturas sobre a vida e sobre túmulo solicitado pelo liberto.

 

MESA 5, das 14:00 às 16:00.

 

1. Jéssica Honório de Oliveira Silva (Mestranda em História pela UFOP)

O retrato de Alexandre, o Grande, em Sêneca.

Não há uma grande obra escrita por Sêneca sobre Alexandre, o Grande. O que nos foi legado são algumas passagens dos textos nas quais Sêneca usa a imagem de Alexandre como exemplo e elemento de comparação. Esta comunicação pretende analisar passagens das fontes Epistulae morales ad Lucilium e De Beneficiis sobre a figura de Alexandre, refletindo assim sobre o retrato que Sêneca constrói de um personagem do passado.

A questão que nos move é o que significa, portanto, compor um retrato de Alexandre nos últimos anos do Principado de Nero e após a saída de Sêneca da vida política.

2. Fábio Faversani (Professor da UFOP)

Alexandre em Sêneca: um estudo de allelopoiesis.

O objetivo desta comunicação é analisar como a construção do retrato de Alexandre em Sêneca pode ser observado como allelopoiesis que imbrica temporalidades que vão do período de vida de Alexandre até o momento da escrita sob o Principado. A forma como Sêneca observa Alexandre respeita a distância temporal que o separa, por um lado, e o aproxima de seu próprio tempo, tratando-o como um contemporâneo e exemplo para se compreender o papel do princeps. Alexandre assume feições diversas desta maneira: governante que realizou grandes feitos, figura atemporal que pode ser tomado como exemplum e símile do que pode ser um imperador em seu próprio tempo. Alexandre, assim, mescla e ilumina reciprocamente estes três momentos: o seu tempo, um “tempo” da tradição e o tempo de Sêneca.

3. Elisabete Cação (Doutoranda pela Universidade de Coimbra)

Da fama de Demóstenes: o que fica quando tudo acaba?

Do cânone dos dez oradores gregos antigos, Demóstenes é o mais importante, não só pelo número significativo de obras que nos chegaram, como também pelo estilo, linguagem e força retórica dos seus textos, quer fossem discursos políticos, quer fossem discursos de defesa para apresentar em tribunal. É famosa a sua luta política contra Filipe II da Macedónia, e os seus discursos pan-helenistas para contrariar o seu poder crescente, descritas nas Olínticas, nas Filípicas, Sobre a Paz, ou Sobre a Falsa Embaixada. São famosas também as suas quezílias com Ésquines, o seu rival de sempre.

Mas o que permanece da sua vida política? Da sua vida privada? Este artigo pretende reflectir sobre o modo como foram os textos de Demóstenes aproveitados, imitados, lidos ou estudados; sobre a importância que hoje há em ler Demóstenes, ou no fundo, ler os Clássicos, de modo a entender os grandes paradigmas de actuação que caracterizam figuras ilustres da história. Analisaremos também sobre que áreas específicas recaiu a maior influência dos discursos de Demóstenes e por fim, daremos um exemplo concreto, na área de estudos da recepção, do aproveitamento de Demóstenes num escritor português do século XIX, Almeida Garrett.

4. Carmen Soares (Professora da Universidade de Coimbra)

De criança a jovem no relato biográfico de Plutarco.

O estudo que propomos é mais de natureza sociológica do que ética, uma vez que buscámos dados relativos à condição da criança e do jovem na sociedade em que se inserem. Sendo assim, não nos interessou enveredar por uma análise do texto dentro do texto (que consideraria o carácter e os actos das crianças e jovens como parte da heurística da respectiva Vida), mas do texto dentro do seu contexto (que permite perceber uma visão da infância e juventude aos olhos de um escritor greco-romano do séc. II A. D.). Consequentemente, a imagem que as Vidas de Plutarco nos permitem delinear desses dois períodos iniciais da vida de uma pessoa está condicionado não só pela bagagem cultural do autor, mas por um princípio de natureza metodológica por ele perfilhado – o princípio da selectividade qualitativa. Como se lê no cap. 1 da Vida de Alexandre, a narração que faz não relata todos os feitos famosos dos homens em apreço (método próprio da História), mas dá conta sobretudo de factos (que podem nem ser os mais ilustres), ditos ou anedotas que revelem o seu carácter (método próprio do género biográfico).

Considerando que a análise onomástica dos vocábulos relativos à infância e à juventude revelou que um mesmo termo (pais) designa um indivíduo desde que nasce até aos 24 anos e que, não obstante alguns aspectos exclusivos de cada uma das idades, os dois períodos de tempo confrontam o indivíduo com algumas realidades similares, optámos não por uma reflexão tradicional, bipartida em infância e juventude. Em vez disso, preferimos individualizar dois aspectos marcantes da identidade psicossomática do indivíduo nessas duas fases da vida: retrato físico e retrato psicológico.

 

MESA 6, das 16:30 às 18:30.

 

1. Juliana da Rosa (Mestranda em Letras pela UFOP)

Tradução de Regimen Sanitatis Salerni: a forma enquanto técnica de memorização.

Com objetivo de transmitir recomendações terapêuticas relacionadas à higiene, à alimentação e ao uso de ervas medicinais, o tratado intitulado Regimen Sanitatis Salerni (ca. séculos XII-XIII) constitui-se como fonte de divulgação da medicina durante toda a Idade Média. Composto em versos por um autor desconhecido, o poema é dedicado, como consta no primeiro de seus mais de 360 versos, ao “Rei dos Ingleses”, referência geralmente atribuída a Roberto II. O tratado manteve forte influência na medicina popular e científica da época. É provável, desse modo, que para permanecer na memória dos que o liam, tenha sido essencial o formato em hexâmetros. A proposta deste trabalho, portanto, é discutir a forma em versos enquanto recurso de memorização, bem como apresentar nossas escolhas tradutórias.

2. Gabriel Ismael Carrazzone Lacativa (Graduando em Letras pela UFOP)

Ecos do prólogo Aos Telquines: A poética helenístico-romana em jogo.

Ainda é costume refletir a Antiguidade clássica, o passado greco-romano, como que dissociada, ou seja, como se as civilizações gregas e romanas estivessem apartadas e imunes às trocas culturais imediatas. Houve, todavia, sobretudo durante o período helenístico, uma intensa troca cultural. É nesse sentido que teóricos como Henri-Irénée Marrou preferem centrar seus estudos no âmbito de uma acertada historiografia antiga que preconiza as relações culturais (e, consequentemente, poéticas), sociais e comerciais no Mar Mediterrâneo, admitindo Grécia e Roma como civilizações interrelacionáveis. Tencionando explicitar a existência dessa cultura helenístico-romana, este trabalho parte da leitura do prólogo Aos Telquines, do poeta helenístico Calímaco de Cirene, e, em cotejo com seus ecos na elegia 3.3 do poeta romano Propércio, analisa tópicas poéticas muito caras a ambos, bem como discorre acerca de motivos poéticos comuns, o que, em certo sentido, confirma a existência de uma cultura comum e também responsiva, na medida em que são claras as referências e em que os poetas revelam-se deveras conscientes do diálogo que é estabelecido. Ainda que a leitura e o cotejo entre os poetas antigos sejam o cerne deste trabalho, que prima pela análise das fontes, são utilizadas como fundamentação teórica as considerações de notáveis pesquisadores dos estudos clássicos, como o francês Henri-Irénée Marrou, a italiana Silvia Barbantani e o estadunidense Peter Knox, entre outros. Aqui, portanto, tomando a esfera poética como sinédoque da esfera cultural, mostrar-se-á quão estreitos são os laços entre as supracitadas civilizações, embasando, assim, a cunhagem e precisão do termo cultura helenístico-romana.

3. Gustavo Henrique Soares de Souza Sartin (Doutorando em História pela UFOP)

Algumas considerações acerca do retrato de Átila, rei dos hunos, na historiografia tardoantiga e posterior.

Apresentaremos, na presente comunicação, um breve painel com retratos de Átila na historiografia tardo-antiga e moderna, investigando em que medida esses retratos podiam ou não servir mais ao interesse narrativo do que a noções de fidedignidade.

4. Edson Ferreira Martins (Professor da UFV)
 “Aí vindes outra vez inquietas sombras”: os retratos romanos evocados em um episódio de Dom Casmurro
No presente trabalho, a partir da narrativa ficcional de Machado de Assis, que dialoga constantemente com o cânone ocidental, ora estilizando-o, ora subvertendo-o, propomos uma leitura dos procedimentos narrativos utilizados pelo autor para a construção de sua poética de revalorização da imitatio e da aemulatio, em um contexto estético efervescente, marcado pela convivência, nem sempre harmoniosa, de estéticas plurais, que vão do Romantismo ao Simbolismo. Orientada teoricamente pelo conceito bakhtiniano de dialogismo (BAKHTIN, 2002) como uma marca constituinte de todo tipo de linguagem, sobretudo na artística, presente no discurso literário, nosso trabalho busca discutir a redefinição que Machado dá para conceitos como mito (BURKERT, 1991), história e clássico (CALVINO, 1993; BARBOSA, BRANDÃO e TREVISAM, 2009; CAIRUS, 2011) em sua produção literária. Para a comunicação, selecionamos um episódio particular do romance Dom Casmurro, em que o narrador se refere a algumas figuras emblemáticas da história política da Roma Antiga; em nossa análise, buscamos identificar, a partir da estratégias narrativas que o Bruxo do Cosme Velho estabelecerá com as matrizes literárias da Antiguidade Clássica, a compreensão de um tipo particular de “literatura nacional”, por meio da poética da emulação (ROCHA, 2013). 

 

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